quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O CONTROLE DA SOCIEDADE DISCIPLINAR





Na sociedade disciplinar, somos marionetes da opressão do poder estabelecido, que nos manipula politicamente conforme as suas conveniências. A opressão dessas sociedades foi descrita nas narrativas literárias de Aldous Huxley e George Orwell.

Pensemos numa sociedade na qual todos nós fossemos vigiados intermitentemente por um grande olhar onisciente, o Panóptico, que não deixaria escapar nenhum detalhe das nossas ações. Nesse sistema, sequer existiria o termo 'privacidade', pois todas as informações seriam consideradas de domínio público. O Panóptico representa analogamente a manifestação social do olhar onisciente de Deus, que conhece de antemão o íntimo de todas as coisas. Trata-se da manifestação mais pura do controle exercido pela sociedade disciplinar, regulamentando as ações, determinando padrões de gosto e modelos de conduta que devem ser seguidos pela massa social. Os organizadores desse dispositivo acreditariam que pela instauração desse grande sistema de observação das ações individuais os grandes problemas sociais seriam banidos definitivamente do âmbito "civilizado".

A definição do Panóptico como um instrumento direcionado para o controle das ações individuais fora adotada por Jeremy Bentham, no seu projeto de inserção dessa cadeia de controle social sobre as instituições europeias do período incipiente da Revolução Industrial, como forma de obter o máximo domínio sobre as disposições individuais, evitando-se as revoltas contra a ordem estabelecida. A formulação do Panóptico é um pretenso projeto utópico, cuja instauração resolveria definitivamente os problemas da sociedade, exigindo assim a supressão da intimidade de cada indivíduo. Analisado criticamente, o Panóptico representa uma distopia social, pois o seu objetivo se realizaria mediante o controle intrínseco do comportamento humano, gerando em cada indivíduo o florescimento do medo pela ameaça de punição.

A crítica sobre a natureza opressora foi retomada contemporaneamente por Foucault em Vigiar e Punir, através da explicitação dos mecanismos de imposição de poder que se encontram subjacentes na prática de controle social por meio da observação contínua dos indivíduos. Esse sistema coercitivo de fiscalização social pelo olhar se dá nos presídios, nas fábricas, nos espaços religiosos e nas escolas, preconizando a adequação e submissão incondicional do indivíduo às regras imperativas estabelecidas, tornando os corpos dóceis (Vigiar e punir, p. 127). A sociedade de controle exerce a domesticação dos impulsos singulares humanos, desmobilizando qualquer projeto de critica. Para Foucault, ao enfraquecer as resistências individuais, o poder legal suprime pela raiz toda voz de dissensão diante das manifestações de arbitrariedade (A verdade e as formas jurídicas, p. 103).
A educação disciplinar do corpo individual é o meio que favorece a transformação da vida humana em força produtiva canalizada para objetivos práticos que proporcionam resultados concretos e úteis para a sua sociedade. O sistema Panóptico coíbe intimamente toda inclinação destoante das individualidades em relação às normas rigorosamente impostas, estabelecendo a adoção de comportamentos uniformes aos que se encontram imersos nessa realidade vigiada. A estrutura do Panóptico, conforme esclarece Zygmunt Bauman, seria, segundo os critérios coercitivos da ordem política estabelecida, uma arma eficaz contra a diferença, a opção e a variedade dos comportamentos e dos valores (Globalização, p. 58). O controle social gera o nivelamento dos indivíduos, calando o desenvolvimento criativo das suas singularidades. Quanto mais medíocre, tanto melhor para a "paz pública".

Leonardo Leite
Professor de Sociologia e Filosofia
Fonte: filosofiacienciaevida.uol.com.br

3 comentários:

  1. Como sempre prof.Leonardo com excelentes contribuições, parabéns!

    Prof. Paulo (Ed. Física)

    ResponderExcluir
  2. Este é o diferencial dos educadores que buscam a excelência, a "não alienação".

    òtimo nicho para debates em sla de aula e fora dela, parabéns novamente.

    ResponderExcluir